mesa a ditar os padrões da moderna gastronomia mundial. Puxado pelo ceviche, prato que mistura peixes crus com limão e temperos locais, outras iguarias ganharam fama. E novos viajantes aportaram em Lima e outras cidades peruanas.
É claro que Machu Picchu, a misteriosa cidade inca descoberta intacta no meio dos Andes, há exatamente um século, continua sendo a estrela principal do Peru. Não é à toa, uma vez que essa cidadela de pedra até hoje intriga os pesquisadores. Ninguém se cansa de ver suas imagens – embora as de outros sítios arqueológicos peruanos, aos poucos, também estejam ganhando fama. Como os descobertos nos arredores de Trujillo, no norte do país, revelando a riqueza inesperada de civilizações anteriores aos incas. Ou os tesouros de Cusco, cidade de forte tradição indígena mesmo com toda a onipresença colonial. Ou ainda a selva peruana, a porção da Amazônia que começa no país e tem nas montanhas andinas seu grande diferencial. O Peru a cada dia revela mais surpresas – e elas nem sempre precisam ser escavadas.
LIMA
Para os fãs de Mario Vargas Llosa, Lima é uma velha conhecida. É a cidade arborizada da infância ou juventude de alguns de seus personagens de ficção mais conhecidos – incluindo as do próprio autor, famoso também por suas obras autobiográficas. Já para os gourmets Lima é uma cidade totalmente nova e pronta para ser esquadrinhada bairro a bairro. A febre da cozinha peruana – apontada por alguns gurus como a “nova” culinária a invadir o mundo – criou um novo turismo na capital peruana. Os mercados tradicionais,
antes frequentados apenas por locais, e ainda assim os mais desprovidos, agora lotam de estrangeiros
– dois endereços clássicos são o Mercado Central e o Bairro Chinês. Chefs peruanos, a começar pelo festejado Gaston Acurio, são presença constante nas mesas que discutem a gastronomia mundial. Essa é a nova e pulsante Lima – que faz um saboroso contraste com a parte antiga da capital peruana, que continua encantadora.
Os museus locais, como o Nacional de Arqueologia e o da Inquisição, dão uma ideia dos tempos em que Lima, por um bom período, foi a cidade mais rica da América Espanhola. Na Plaza de Armas, o Palácio Arcebispal é pura luxúria em sua decoração: sacadas de madeira finamente talhadas se misturam a paredes de pedra esculpida. Nos arredores, mais construções de origem espanhola, religiosas ou não, mostram a opulência trazida pela exploração do ouro e da prata no Peru.
Outra atração que reluz é o Parque da Reserva, autointitulado o maior parque de fontes do mundo, com 23 saídas de águas dançantes. Pode parecer bobo, mas é irrestível passar dentro do túnel de água e tirar belas fotos. Do outro lado da cidade, na orla, o Shopping Larcomar, em um píer sobre o Pacífico, abriga uma filial do Museu do Ouro, lojas e ótimos restaurantes. Seja você um adepto da nova ou da velha Lima, dificilmente irá resistir ao chamado das cores e sabores da cidade.
UM TREM NAS NUVENS
Um programa fora do circuito tradicional – e adorado por turistas europeus – é o trem para Huancayo, que sai de Lima e atravessa a Cordilheira dos Andes. Em 12 horas, o comboio sobe do nível do mar para uma altitude de 4.780 metros, recuando em seguida para 3.400 metros. A ferrovia foi construída na virada do século 19 para o 20, mas é servida por trens modernos – e a vista para a paisagem andina é a cada curva mais espetacular.
CUSCO
Como capital do Império Inca à época da chegada dos colonizadores espanhóis, Cusco sofreu. Todas as construções que representavam o poder incaico – sobretudo as usadas nos rituais religiosos – foram destruídas em menos de 40 anos pelos conquistadores. Mas o estrago, felizmente, não foi completo. Os espanhóis não contavam com a engenhosidade local, que ergueu estruturas tão difíceis de demolir que o melhor a fazer era construir sobre elas. Assim, quem vê Cusco por cima enxerga uma quantidade enorme de
igrejas, mosteiros e construções católicas. Mas, de perto, muitos desses prédios mantêm as pedras – e a alma – colocadas pelos incas.
Cusco é a cidade usada como acesso à Machu Picchu. Recebe, portanto, uma quantidade enorme de visitantes, e muitos se surpreendem ao notar os seus próprios encantos. A cidade está a 3.300 metros
de altitude e oferece um belíssimo panorama no alto da montanha do Cristo Blanco (versão local do Cristo Redentor). Alguns encaram a subida a pé, mas a grande maioria vai mesmo de taxi, para poupar o fôlego. Dali do alto se nota a importância da Plaza de Armas, ao redor da qual ficam a Catedral Basílica, a Igreja da Sagrada Companhia de Jesus e uma série de cafés e restaurantes que ocupam os andares superiores das construções e aproveitam as varandas para colocar as mesas mais concorridas. Próximo, o Palácio Arzobispal, na Calle Triunfo, sedia um museu de arte sobre as bases do antigo reduto do imperador Inca Roca. Não deixe de ver a pedra de 12 ângulos, um trunfo da engenharia inca. Outra herança que vale a visita é Sacsayhuamán, uma série de ruínas nos arredores da cidade com pedras imensas, de até 8 metros de altura, que se encaixam com perfeição. É aqui que se celebra a Festa do Sol em 24 de junho – uma
herança pré-colombiana que nem a mais pesada das armas conseguiu aniquilar. No caminho entre Cusco e Machu Picchu, há um lindo vale fértil repleto de vestígios da civilização inca. Trata-se do Vale Sagrado, um ótimo lugar para você hospedar- -se por uma noite e reconhecer o território. Tanto em Cusco quanto no Vale Sagrado, os hotéis Aranwa são ótimas opções de hospedagem. O de Cusco é um hotel boutique cinco estrelas tinindo de novo. E o do Vale Sagrado, na cidade de Urubamba tem o mesmo padrão e oferece, ainda, um SPA de 2400 metros quadrados para hóspedes que desejam ainda mais energia.
MACHU PICCHU
Há apenas 100 anos, em julho de 1911, o arqueólogo norte-americano Hiram Bingham empreendia
sua segunda grande exploração nos Andes em busca de mitológicas cidades perdidas dos incas, quando um nativo lhe disse, com a maior naturalidade, que indicaria o local de uma cidadela sagrada. Ao chegar ao destino, depois de 20 dias de perrengues nas montanhas, Bingham não se deu conta imediatamente da dimensão da descoberta: Machu Picchu estava coberta de vegetação.
A imagem de Machu Picchu e suas ruínas de pedra cobrindo o topo de uma montanha é uma das mais
conhecidas de todo o mundo. Construída no século 15, pouco antes, portanto, da chegada dos espanhóis
à região, Machu Picchu quer dizer “Cidade Alta” em quéchua. Suas construções em enormes pedras de
granito (retiradas da própria encosta andina, com a engenhosa abertura de fendas que os incas preenchiam
com água para que as rochas se desprendessem com o congelamento) ocupam uma área de 530 metros de comprimento por 200 de largura. São duas as divisões principais: a área urbana, onde ficam os templos do Sol e do Condor e o Palácio, entre outras obras; e a divisão agrícola, com silos e terraços que ainda eram usados por nativos quando Ingram lá pisou pela primeira vez. Hoje, para chegar até as ruínas, há sete caminhos disponíveis (quatro trilhas e três trajetos de trem), com preços, durações e paisagens variáveis. Os aventureiros iniciantes optam da Trilha Inca curta (caminhada com dois pernoites de acampamento nas montanhas), enquanto os veteranos preferem a Trilha Salcantay, que dura sete dias. De trem, a opção mais econômica tem passagens em torno de US$ 50 e nenhum conforto, enquanto a mais luxuosa custa a partir de US$ 300, com direito a brunch, jantar, guia exclusivo e largas poltronas de couro.
TRUJILLO
Colada no Pacífico, Trujillo é conhecida entre os fãs de ceviche – o prato de peixe cru que marca o encontro dos imigrantes japoneses com a fartura de temperos, pimentas e batatas existente no Peru, sem
falar dos próprios pescados do Pacífico. Dizem que o prato, cada vez mais internacional, é originário do
litoral norte do país, ou seja, de Trujillo mesmo. O programa completo na cidade inclui ver o pôr-do-sol na praia de Huanchaco, a 15 minutos do centro, cujas areias são enfeitadas por canoas de totora, um tipo de junco. Depois, é só procurar um restaurante para provar a iguaria, com preços bem convidativos. Mas não se vai a Trujillo apenas para comer. Berço de duas civilizações pré-incaicas, a moche e a chimu, Trujillo tem sítios arqueológicos impressionantes e faz novas descobertas a cada ano. O principal ponto de escavações é Chan Chan, capital do reino chimu (século 9), que hoje é o maior sítio arqueológico da América do Sul. São 10 cidadelas com templos, casas e reservatórios em adobe, além de huacas (pirâmides sem ponta).
AREQUIPA
A segunda maior cidade peruana é também a principal da região andina do sul do país. A 2.335 metros de altitude, ela atrai tanto pela herança colonial espanhola como pela cultura inca ainda presente. Se você priorizar o primeiro atrativo, vai se deliciar com a arquitetura da cidade – o colorido Mosteiro de Santa Catalina, do século 16 e ainda em atividade, e a Igreja dos Jesuítas, do século 17, são as atrações principais. Muitas das construções são brancas, graças ao uso de sillar, um tipo de pedra vulcânica local.
O lado inca de Arequipa merece um passeio à parte, pelo desfiladeiro do Rio Colca. O tour pela região exige dois dias inteiros, nos quais se penetra em vilarejos escondidos nos Andes e pode-se experimentar as emoções de um rafting nas desafiadoras águas do Colca. As caminhadas pelas montanhas revelam cenários belíssimos, que ganham ainda mais cores ao se ouvir as histórias e lendas locais.
COMO CHEGAR
Há voos diretos para Lima de várias cidades brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro,
Brasília e Porto Alegre. As companhias aéreas que voam para o destino são Lan, Taca e Tam
ANOTE
Aeroporto: Aeroporto Internacional Jorge Chávez, em Lima (LIM)
Capital: Lima
Moeda: Nuevo sol (US$ 1 equivale a cerca de 2,88 nuevos soles)
Idioma: Espanhol e quéchua
Visto: Não é necessário para brasileiros
Vacina: Febre Amarela. É obrigatória e deverá ser tomada 10 dias antes do embarque
Código de telefone: 51
Eletricidade: 220V
Fuso horário: 02 horas a menos que Brasília
Melhor época para visitar: O ano todo, lembrando que entre o final de dezembro e começo de março há muitas chuvas, tornando a visita a Machu Picchu um pouco mais difícil. A trilha de Salkantai é fechada em janeiro e fevereiro para manutenção
Informações turísticas: www.peru.info
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